29.7.10

Existence


Hoje eu vi o tempo; ele beirava o horizonte, vestido de branco e com os pés descalços; no seu rosto, estampava marcas de expressão de quem viveu milênios sem saber ao certo o porquê de sua existência. O observava de longe, com medo do seu medo; quando uma jovem o abordou:

- Senhor, o que lhe aflige?

- A existência minha cara.

- De fato, a existência aflige a todos, mas não é algo questionável. O tempo passa, e nunca descobrimos, o porquê existimos. E sabe por que não entendemos senhor? Porque fazemos a pergunta errada; esqueça o porquê! Pergunte-se como, onde e até quando; se não encontrar as respostas, arrisque; se der errado, tente de novo. Nunca saberemos, porque o tempo passa. Acredito que nem mesmo ele saiba. Mas isso não importa, porque quando você acredita, o tempo se torna seu aliado, e dança com você, uma valsa lenta e sonora, a cada passo.

28.6.10

King

E ele cai. Tão esperançoso quanto teu povo, ao soberano só resta à humilhação. E é em meio aos olhares e gargalhadas que seu ódio o possui, e de forma aterrorizante o torna absorto aos seus princípios. Seus olhos, já cegos pela fúria, não definem mais quais os pecadores; seu corpo cansado pesa sobre os ombros mortais: Sofrerão como sofri, perderão como perdi, até que possam entender que como eu, vocês também são imperfeitos; são apenas mortais.

9.5.10

L'aube de la journée


Ando sozinho pelos becos escuros, procurando escombros que completam minha frágil personalidade fútil; escuto ruídos amedrontadores que me perseguem a cada segundo; observo sombras se movendo coreografadamente por cada fresta de luz ainda resistente nas ruas da longa noite sombria. Sinto-me cada vez mais perto de chegar a lugar nenhum; escuto então o chamado: Aquele estridente grito agudo penetra minha mente, pensamento por pensamento. Fim do último ato, as cortinas se fecham, segredos serão revelados: Chega o amanhecer!

16.4.10

Désirs


Desejo a você a insegurança. A insegurança de tomar suas próprias decisões; de dar seus próprios passos. Desejo a você o medo. Medo de errar ao escolher seu caminho; medo de temer. Desejo a você a vergonha. A vergonha de se expor, como realmente é; vergonha de suas ideias, de seus avanços e retrocessos. Desejo a você, a insanidade. a insanidade ao cometer loucuras e não poder reconhece-las, ao cometar loucuras e não poder concerta-las. Também desejo a você, o caos; desejo que você se perca em seus desejos; se sinta um forasteiro em seu território; que sinta na pele os calafrios ardentes, a sensação de impotência. E finalmente, desejo que você aprenda. Aprenda a amar, a respeitar, a entender o próximo; sei eu; que nem mesmo a perfeição está livre de cometer suas falhas; mas sei também que é na dor que se ganha força, que é no fim, que encontramos um novo começo.

8.4.10

Silence


Eu posso ouvi-los; e eles não dizem nada. O silêncio corta meus sentidos, de forma dolorosa e atormentante. Oh! senhor misericordioso, leve-me daqui; transforme-me em pedra, em água ou ao menos, faça com que eles parem. Já não consigo mais aguentar; Eles estão em toda parte, em cada lado, em cada canto, em cada segundo, eles estão dentro de mim, dentro de minhas lembranças mais obscuras, dentro dos meus sentimentos mais perdidos. Grito a redenção, como um católico que nunca fui; aclamo que cavalgando em cima de seus cavalos, chegue a Conquista , a Guerra, a Fome e a Morte; e tragam com elas o Apocalipse. E talvez assim, com o sangue derramado, possamos ver, entender e, realmente, aceitar que mesmo no silêncio somos iguais, mesmo em nossas diferenças.

22.3.10

O diário secreto de Abigail Durand (Prévia)

Le Parisien, 10 de janeiro de 2010

Abigail Durand, filha dos condes de Durand, foi encontrada morta essa manhã, em seu ateliê no Brasil. A jovem revolucionária, que foi capa de diversas manchetes por seu comportamento extravagante e sua infindável tentativa de igualdade cultural, tinha essa amanhã uma reunião com seus pais. O objetivo dos Condes era trazer de volta pra casa sua filha, que por três anos, burlou regras sociais, e gritou para quem quisesse ouvir, que seu objetivo era mostrar para o mundo a real essência de um nobre, aquela essência que havia sido perdida nas trevas.

Ao lado do corpo da estilista foi encontrada uma carta. Até agora a única frase que a família de Abigail expos foi à seguinte: “... deixo pra vocês, meus pais, o meu eterno amor; para meus amigos, a minha eterna saudade; e pros meus (como a menina se referia a todos que a aceitassem, da forma que ela se mostrava), deixo minha eterna esperança. Esse mundo se tornou muito pequeno para as minhas idéias, por isso, resolvo aqui partir pra um lugar aonde os limites sejam além de nossas expectativas. Obrigado meus amigos, e rester avec Dieu.”


Le Monde, 12 de Janeiro de 2010

Ainda chocados, com o suicídio de sua única filha, Pierre Durand - o conde de Durand – e sua esposa Haydée Durand; afirmaram que o desejo de sua filha, será realizado. Tudo que por direito era da estilista, será revertido e doado para instituições de incentivo a cultura, na França e no Brasil. O corpo de Abigail será velado hoje, no Brasil, logo após a chegada dos condes ao país. Estilistas e pensadores de todo mundo estão chocados, e de luto, marcharão pelo incentivo e investimento à cultura. A estilista será enterrada, no ‘Jardim da Saudade’ no Rio de Janeiro.

"Mon journal: Paris, 25 de setembro de 2009

Hoje completo 18 anos; e atipicamente neva no outono de Paris. As rodovias estão tomadas pela neve, isso impede qualquer chance de comemoração nesta data tão esperada. Estou olhando pela janela, um eterno caminho branco, a parecer com um longo véu, das noivas mais puras, cobre meu jardim. O relógio conta 22h, estou cansada de esperar um único raio de sol, que traga junto uma fresta de esperança. Vou dormir cedo hoje, e espero acordar amanhã pronta, pronta pra tomar a decisão mais difícil de minha vida. Bonne nuit, et jusqu'à demain.

17.3.10

Temps de la renaissance

Pare! Minhas lembranças já estão esvaecendo; em um único sopro, em uma única brisa. Escorrendo entre meus dedos.
Sinto-me incapaz; estou absorto em seus últimos sorrisos, suas últimas palavras. Sei que essa decisão nunca coube a mim, mas mesmo assim me sinto responsável. Aqui tudo é tão diferente, os sorrisos plásticos, as falsas perspectivas. Nesse mundo tudo é tão surreal.
O tempo então parece se acanhar, se esconder nas sobras destas vastas lembranças. Eu fico imóvel, esperando ouvir algo, esperando ouvir sua voz. Finalmente o silêncio é quebrado: escuto os saltos a caminhar sobre o vidro partido. O tempo então retoma sua forma mais majestosa e ao quebrar dos segundos, eu retorno as sombras. Minhas lembranças, já não me confortam mais. Está na hora de um novo nascer.

26.2.10

Fin


Aceite; uma hora eles voltarão e da forma mais dolorosa e humilhante o farão lembrar de suas mais sombrias e perigosas lembranças. Sua mente gritará em agonia, suplicando-o para que pare com aquilo; seus olhos não suportarão mais a luz do sol. Somente então, sentirá um súbito e repentino frio; trazendo junto uma sensação de dor, de arrependimento, de medo. Rapidamente teu corpo estará tomado por esses sintomas. Neste momento estará a se perguntar que frio é esse, se o sol toma conta do céu limpo e azul, nesta tarde de verão; e que sensação é essa, por que sente medo, do que sente medo. A resposta?! Esse frio é peso que sua consciência exerce sobre sua alma, e o que você tanto teme, simples. Você teme o fim; e não o simples acabar, mas a forma que isso virá a acontecer.

21.2.10

Profil (Hommage)

Gosto de frio com sol, de céu poente, de blusas brancas, calças jeans e pés descalços, de unhas por fazer, de pele arrepiada e cheirosa, de coisas esquisitas, de beleza diferente. Gosto de sorrisos, principalmente os bonitos e verdadeiros. Gosto de vozes roucas, de sopros no ouvido, gosto de música. Gosto de café, biscoitos, pão quente. Gosto de cafuné, de carinhos inocentes, de mordidas amigáveis. Acima de tudo isso, gosto de gente, e principalmente, eu gosto do que sou.

19.2.10

Chaos

Em meio ao caos metropolitano, todos os olhares pararam a fitar aquela perfeita aberração. Estavam a se perguntar: de onde vinha essa tal coragem? Como pudera alguém ser tão ousado? Foi quando então, a aberração percebeu, que paraste uma metrópole inteira por causa de sua suposta coragem. E em instantes, a aberração, estava absurdamente desesperada. Correndo sem direção alguma e até lugar nenhum. Só então se deram conta; que por traz de toda aquela medonha perfeição, havia uma única e falha tentativa, de não mostrar ao mundo o que realmente se escondia na noite.